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segunda-feira, 9 de abril de 2012

Facebook é a história de um vencedor e de perdedores

Mark Zuckerberg

POR EULER DE FRANÇA BELÉM

Os vencedores sofrem com o ressentimento dos perdedores, que, como são maioria, acabam por se tornar um imenso proletariado. Aqueles que perdem têm de pôr defeitos absurdos e suspeitos naqueles que vencem. Os vencedores se tornaram vencedores porque “roubaram” alguma ideia. Nós, que não somos gênios, no sentido de gênios criativos que se tornam poderosos em termos financeiros (como Bill Gates e Steve Jobs) ou mesmo estéticos (caso de James Joyce), sempre achamos que os que pegaram uma ideia que parecia simples, e estava dando sopa no mercado, e a transformaram numa ideia lucrativa, ou, no caso literário, esteticamente avançada, só podem ter plagiado. É o caso de Mark Zuckerberg, de 26 anos, criador do Facebook, a rede social que mais cresce em todo o mundo — no Brasil ainda perde para o Orkut, mas não por muito tempo.

Em Harvard, Zuckerberg era um estudante inquieto, menos dedicado às aulas do que à criação de alguma coisa, qualquer coisa que pudesse revolucionar a comunicação na internet. Desenvolveu algumas ideias, como programador excelente que é, e mexeu com os ânimos numa das melhores universidades do mundo. Um dia, convocado pelos irmãos gêmeos Cameron e Tyler Winklevoss, mais Divya Narendra, Zuckerberg começa a desenvolver uma rede social. Ao perceber que não precisava dos três, desenvolve o Facebook sozinho, com o apoio financeiro do amigo brasileiro Eduardo Saverin, hoje com 28 anos.

Com pouco dinheiro, mas muito trabalho criativo, Zuckerberg criou um empreendimento, o Facebook, que vale 41 bilhões de dólares (dado de novembro deste ano) e tem 500 milhões de usuários (7,3 milhões no Brasil, mais do que toda a população do Estado de Goiás). O Facebook é uma rede social — uma base para contatos empresariais, profissionais, debates sobre quaisquer assuntos (música, literatura, sexo, cinema), afetivos (três amigos encontraram namoradas interessantes) e mesmo para jogar conversa fora. As pessoas se tratam como amigas. Antes, as revistas punham na capa: “Computador — Você vai ter um”. Depois, vieram o notebook, o netbook, o iPhone, o iPad e virão outros. Agora a internet amplia os contatos globalitários e as revistas terão de dizer: “Redes Sociais — Você vai pertencer a uma delas”.

Depois do sucesso do Facebook, Cameron, Tyler e Narendra, que não conseguiram produzir nada igual, como vários outros retardatários da ciência e das artes, decidiram processar Zuckerberg, alegando que haviam sido enganados, plagiados. Mas como plagiar o que não era realidade? Para escapar do litígio e de desgastes, Zuckerberg decidiu pagar a indenização. Os gêmeos, que preferem esportes olímpicos a “esportes” mentais, receberam a indenização, mas resolveram reabrir o processo. Saverin processou Zuckerberg, faturou mais de 1 bilhão de dólares e teve seu nome de volta aos documentos da empresa como co-fundador e permanece como acionista.

Vi o filme “A Rede Social”, porque a história de Zuckerberg é fascinante, como criador e indivíduo. É uma adaptação fiel do livro “Bilionários por Acaso — A Criação do Facebook” (Intrínseca, 230 páginas, tradução de Alexandre Matias), de Ben Mezrich. O filme é quase perfeito, pois conta a história com ritmo, dando as informações com relativa precisão e quase sem caricaturizar (e padronizar) o mundo dos jovens. Mas a melhor crítica talvez tenha sido feita pelo próprio Zuckerberg: “Eles [os responsáveis pelo filme] não conseguem entender que alguém possa construir algo porque goste de construir coisas”.

Qual é o problema do filme? Ao frisar a história de um vencedor, Zuckerberg, o autor do livro, Ben Mezrich, e o diretor do filme, David Fincher, partem não de seu ponto de vista, ou de uma exame mais detido do que realmente aconteceu, e sim das opiniões dos “perdedores” Saverin, Cameron, Tyler e Narendra. Claro que isto é uma tentativa de nuançar a história, de não contá-la a partir de um único ponto de vista, mas, para fortalecer o papel de outros “criadores”, como os gêmeos e Saverin, o escritor e o cineasta tiveram de diminuir o papel de Zuckerberg, o verdadeiro criador, e o apresentam meio robotizado, investindo no clichê de que os grandes criadores, como os cientistas, tem um quê de aloprados e sonsos. Mesmo assim, saímos da leitura do livro e do cinema com uma certeza: o gênio criativo é mesmo Zuckerberg. Noutras palavras, nada substitui o papel do indivíduo na história, sobretudo na história dos avanços empresariais e científicos. Hoje, o avanço da ciência e dos negócios é criação coletiva, mas algumas ideias, as que empurram todos para frente, não raro são criações individuais. Fala-se muito em “equipe” única e exclusivamente para fortalecê-la, para torná-la produtiva, mas o mérito individual deve ser reconhecido.

Daqui.


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